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IAC celebra 134 anos com novas tecnologias

IAC celebra 134 anos com novas tecnologias

Dentre as novidades estão duas cultivares de feijão carioca, dois porta-enxerto de citros e duas cultivares de crotalárias inéditas – até então o Brasil não tinha material desenvolvido e registrado nacionalmente

O Instituto Agronômico (IAC) completa 134 anos de atuação ininterrupta neste 27 de junho de 2021. Com contribuição determinante em por boa parte dos produtos alimentícios presentes no dia a dia do brasileiro, o IAC chega a este aniversário com diversas novas tecnologias para serem entregues aos setores de produção da agricultura nacional. Dentre as novidades estão duas cultivares de feijão carioca, duas de crotalária – as primeiras desenvolvidas no Brasil – e dois porta-enxertos de citros, além da certificação do Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) de cana-de-açúcar, desenvolvido pelo IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Uma live comemorativa será realizada nesta segunda-feira, 28 de junho de 2021, às 14h, no https://www.youtube.com/user/agriculturasp e é aberta à participação de todos os interessados. Durante a live, será assinado um termo entre a Secretaria de Agricultura e Abastecimento e a Prefeitura Municipal de Campinas. O documento visa à elaboração de um plano de trabalho para a implantação, no IAC, em Campinas, de um ambiente de inovação e apoio a startups.

O Instituto é pioneiro na introdução e melhoramento genético da maioria das culturas agrícolas. Neste segmento, sua liderança é mantida por atuação moderna e integrada com redes nacionais e internacionais de pesquisa e em parceria com os agricultores de várias regiões brasileiras. Com experiência e credibilidade centenárias, o Instituto, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) incorpora novas ferramentas à sua programação científica, desenvolvendo e transferindo pacotes tecnológicos. As ações envolvem, além do melhoramento genético convencional, genomas e prospecção de genes, transformação genética por transgenia, cisgenia e, mais recentemente, por edição de genomas.

“Ciência requer estratégia a longo prazo e execução diária em consonância com as oportunidades atuais e preparação para os desafios futuros. Por isso são fundamentais a interação com os setores de produção e o conhecimento de suas demandas e realidades”, afirma o diretor-geral do IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell.

Para o pesquisador e gestor, a bagagem científica presente no IAC capacita suas equipes na elaboração de projetos de modo a criar bases para a sustentação da agricultura para as próximas décadas. “A tecnologia disponibilizada atualmente aos agricultores e indústrias foi desenvolvida há vinte anos; não se gera tecnologias agrícolas de um ano para outro porque dependemos, dentre outros fatores, do ciclo de vida das plantas”, comenta. Apesar do avanço trazido pela biotecnologia, por exemplo, que acelera processos antes mais lentos, ainda são necessários anos e até décadas, como no caso do café, da seringueira e mesmo da cana-de-açúcar, para se chegar à conclusão de experimentos.

As atividades de pesquisa do IAC são conduzidas em parceria com os setores de produção, atendendo às demandas da indústria, que se ligam às exigências dos mercados e dos consumidores, e às necessidades e peculiaridades dos agricultores dos diversos segmentos e regiões do Brasil.

Confira as novas cultivares IAC

As novas cultivares de crotalária são a IAC 201 CS, Crotalária spectabilis, e a IAC 201 CO, Crotalária ochroleuca, caracterizadas pelo alto teor de massa vegetal. Esses novos materiais poderão ser cultivados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. A crotalária é usada como adubo verde para enriquecer o solo e combater, de forma natural, a infestação por nematoides. Esse resultado é alcançado por meio da rotação de culturas, alternando-as com o plantio da crotalária. Essas cultivares são inéditas no mercado brasileiro, porque até então não havia nenhuma cultivar registrada para estas duas espécies.

Os pesquisadores do IAC, Alisson Fernando Chiorato e Sérgio Augusto Morais Carbonell, trabalharam com materiais presentes no Banco de Germoplasma do Instituto, direcionando o estudo para obtenção da característica de maior massa vegetal, principalmente para uso da planta na cobertura do solo. “Fizemos seleções e diversos experimentos visando identificar duas cultivares de crotalária: uma da espécie C. spectabilis e a outra da espécie C. ochroleuca, que são espécies diferentes”, relata Chiorato.

A motivação do IAC para essa pesquisa veio com uma determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em 2017, que restringiu a multiplicação de cultivares comuns de crotalária, limitando a multiplicação a apenas uma geração, ou seja, apenas um tombo, como é chamado o processo de multiplicação de sementes. “Essas cultivares IAC vêm para mudar esse mercado. Até então, não tinham cultivares específicas, o que havia eram registros da espécie, as chamadas cultivares comuns”, afirma Carbonell. A IAC 201 CS e a IAC 201 CO estão em fase de multiplicação por empresas já licenciadas, no estado do Mato Grosso.

Novos feijões tipo carioca

O feijão do tipo comercial carioca, que engloba 79% do mercado de feijão no Brasil, foi desenvolvido pelo Instituto Agronômico na década de 1960. Atualmente está na 51ª cultivar. Essa continuidade no melhoramento genético do feijoeiro contribui de forma preponderante para o alto nível tecnológico da cultura.

A cultivar de feijão IAC 1849 Polaco foi desenvolvida para atender às demandas da cadeia de produção do feijão e oferecer um produto de alta qualidade, com tolerância ao escurecimento do grão e baixo tempo de cozimento, além de ciclo precoce na lavoura. Essas características são as mais desejadas nesse segmento e agregam valor ao produto final. “A tolerância ao escurecimento está relacionada às preferências de mercado por feijões cariocas com grãos mais claros, que são relacionados com feijões de fácil cozimento, muito embora isso não esteja cientificamente comprovado”, explica Chiorato. A IAC 1849 Polaco tem grãos creme com listras de coloração marrom claro.

A precocidade da cultivar IAC 1849 Polaco tem impacto na produção e na produtividade da lavoura. A produtividade média é de 2464 quilos, por hectare, e pode atingir até 4.500 quilos, por hectare. Além desses benefícios, o ciclo mais curto reduz custos no manejo das plantas. “Por exemplo, tem-se a redução de defensivos agrícolas porque a planta fica menos tempo exposta aos estresses bióticos. O mesmo ganho ocorre para fatores abióticos: cultivares precoces de feijoeiro utilizam menos irrigações e energia até finalizar seu ciclo de 75 dias, quando comparado a uma cultivar de ciclo normal de 90 dias”, detalha Carbonell.

Ainda no aspecto agronômico, a IAC 1849 Polaco é estável em produção de grãos e tolerante às principais doenças do feijoeiro, o que possibilita um manejo integrado com os diversos sistemas de produção de grãos.  Sob condições naturais de cultivo, a IAC 1849 Polaco é resistente à antracnose e moderadamente resistente à mancha angular, à murcha de fusarium, ao crestamento bacteriano e à murcha de Curtobacterium.  É recomendada para o cultivo na época das águas, da seca e de inverno no estado de São Paulo, nas safras das águas e seca nos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

Segundo os pesquisadores Chiorato e Carbonell, obter cultivares que reúnam os atributos de alta produtividade e qualidade do grão no campo e na pós-colheita são a meta dos programas de melhoramento do feijoeiro.

A IAC 2051 foi desenvolvida com o objetivo de atender às exigências do consumidor, que busca por grãos claros e de rápido cozimento, com qualidade de caldo e sabor. A IAC 2051 cozinha em cerca de 30 minutos e seu teor de proteína é de 20%.

Para a cadeia de produção, a mais recente cultivar de feijão carioca do IAC oferece elevado potencial produtivo, tolerância ao escurecimento dos grãos, tolerância para o patógeno da antracnose e para os patógenos da murcha de fusarium e crestamento bacteriano.

Com ciclo médio de 90 dias, nos experimentos em Mococa, em cultivo na seca de 2019, a cultivar IAC 2051 apresentou a maior produtividade de grãos, chegando a 4.250 quilos, por hectare. “Essa produtividade vai depender da época de semeadura, região de cultivo e nível tecnológico do agricultor, referente à adubação, controle de doenças e ervas daninhas e suprimento de água”, orienta Carbonell.

De acordo com os pesquisadores, para os agricultores se interessarem por uma nova cultivar de feijão, ela deve atender às exigências do mercado, como produtividade de grãos, resistência ou tolerância aos principais fatores bióticos e abióticos, que podem interferir no desenvolvimento vegetativo e qualidade de pós-colheita dos grãos. No critério pós-colheita, a característica apreciada é a tolerância ao escurecimento dos grãos durante o armazenamento, uma vez que os consumidores associam grãos escuros com a dificuldade de cozimento.

“A cultivar IAC 2051 é recomendada para o cultivo na época das “águas”, da “seca” e de “inverno” no estado de São Paulo, sendo recomendada também para a época das “águas” e da “seca” nos estados de Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul”, diz Chiorato.

Dois novos porta-enxertos trazem sustentabilidade à citricultura paulista

 

O Instituto Agronômico atua para oferecer aos citricultores novas opções de combinações de variedades copa e porta-enxertos que atendam à demanda do mercado por frutos de mesa, para Suco de Laranja Concentrado Congelado (FCOJ) e Suco de Laranja Não Concentrado (NFC), além de apresentarem tolerância às principais doenças que afetam a cultura. Com esse objetivo, o IAC disponibiliza dois novos porta-enxertos de citros: a parte da planta que fica sob o solo e que sustenta a copa. Os novos porta-enxertos, o IAC 3128 e o IAC 3026, induzem a planta à produção de boa qualidade de fruta.

“Os dois porta-enxertos são importantes porque são diferentes um do outro, um é mais vigoroso, que é o IAC 3128, apesar de ser semi-ananicante, o outro é menos vigoroso e induz a variedade-copa ao tamanho menor que dois metros”, explica a pesquisadora do IAC, Mariângela Cristofani Yaly.

O benefício proporcionado pelo porte ananicante é a viabilização de um espaçamento menor entre as plantas e, consequentemente, a instalação de um maior número árvores, por hectare, e maior produção por unidade de área. É o chamado plantio adensado, estratégia adotada pelo setor a partir do surgimento e expansão do Huanglongbing (HLB ou Greening), uma das doenças mais severas dos citros que causa perdas econômicas substanciais. “Para o cultivo adensado, é necessário que sejam utilizados porta-enxertos que induzam um porte menor à cultivar copa”, explica a pesquisadora.

Além da maior eficiência produtiva, a planta de menor porte facilita a colheita, a inspeção, a pulverização e a erradicação de plantas no controle do HLB, atendendo aos anseios da maioria dos citricultores no controle de pragas, doenças e seus vetores.

O porta-enxertos IAC 3128 induz a variedade de copa a ter o porte semi-ananicante e boa qualidade de fruta. Suas principais características agronômicas são a tolerância à seca, compatibilidade com laranja Pera e indução à elevada produtividade da variedade copa. O IAC 3128 se destacou em Barretos com a produção de 4.000 caixas, por hectare”, diz Mariângela.

O porta-enxertos IAC 3026 se destaca por induzir o porte ananicante à variedade de copa e gerar boa qualidade de fruta. Ele pode ser recomendado para plantios mais adensados, entretanto não apresenta tolerância à seca.

A pesquisadora explica que os porta-enxertos que induziram porte da variedade copa menor que 2 metros foram considerados ananicantes. Os que induziram porte da variedade copa até 3 ou 3,5 m de altura foram considerados semiananicantes. “Vale destacar que na região norte do estado de São Paulo, devido às altas temperaturas, radiação solar e, por ser um experimento irrigado, as plantas ananicantes tiveram um desenvolvimento vegetativo superior às plantas do experimento realizado na região Central do estado de São Paulo, entretanto a produtividade acumulada foi 13% menor que na região Central”, comenta.

Os dois porta-enxertos novos já têm registro junto ao MAPA. Durante as pesquisas, foram feitos testes em duas regiões muito importantes para a citricultura paulista: Gavião Peixoto, na região central paulista, e Barretos, no norte do estado. “Notamos que diferentes condições de solo e clima, principalmente as maiores médias de temperatura máxima apresentada na região de Barretos, influenciaram o comportamento dos porta-enxertos quanto à fixação de frutos”, completa a cientista.

Na pesquisa, a equipe concluiu também que os porta-enxertos influenciam no tempo de armazenamento dos frutos, que podem perder massa ao longo do período em que ficam na gôndola do mercado e na casa do consumidor.

“Atualmente, a maior parte das plantas cítricas do Brasil está enxertada sobre os porta-enxertos limão Cravo e citrumelo Swingle, o que pode colocar em risco a citricultura brasileira em função da baixa diversidade genética. Por isso é tão importante a ciência gerar essas opções ao setor citrícola e o IAC está disponibilizando essas duas novas alternativas, possibilitando a formação de plantas longevas e conferindo à copa produção e qualidade de fruto e suco”, complementa Mariângela.

Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB-IAC) terá certificação  

O sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) de cana-de-açúcar está em fase de certificação. O processo está sendo feito pela Certificadora SGS, líder mundial em inspeção, verificação, testes e certificação. De acordo com a SGS, “a certificação socioambiental no setor agrícola visa adequar processos, cadeias de valor e produtos às normas reconhecidas internacionalmente.”

A empresa Terragrata Consultoria em Responsabilidade Socioambiental está intermediando os trâmites, que devem ser concluídos em dezembro próximo. “Com essa certificação, o IAC demonstra às partes interessadas que o Instituto está disposto a mostrar para um avaliador independente suas ações de sustentabilidade e o atendimento a determinados padrões. Isso traz segurança para todos os interessados”, comenta Iza Barbosa, fundadora da Terragrata.

Para o pesquisador do IAC responsável pela tecnologia, Mauro Alexandre Xavier, a certificação insere o sistema MPB em novo nível de qualificação, que se estende às atividades dos viveiristas que adotam a produção integrada do método desenvolvido pelo IAC. “Estaremos qualificados dentro dos processos das boas práticas em relação à sustentabilidade ambiental e social, além da própria governância da tecnologia; é um passo que agrega valor a esse pacote tecnológico já adotado em diversas regiões do Brasil”, diz Xavier.

As certificações tornam as instituições e empresas preparadas para os novos padrões de consumo. Elas são meios para garantir a qualidade de produtos, serviços e processos, inseridos em uma cadeia de valor comprovadamente comprometida com regras relacionadas ao ambiente e à sociedade. “A certificação reforça a qualidade do sistema desenvolvido pelo IAC e do produto MPB perante o setor sucroenergético”, diz Xavier.

Implantação de um ambiente de inovação e apoio a startups

A ação entre a Secretaria de Agricultura e Abastecimento e a Prefeitura de Campinas, prevista no termo a ser assinado em 28 de junho de 2021, visa ao desenvolvimento conjunto de projetos de melhoramento e fortalecimento do ecossistema de inovação em Campinas e Região, tendo por base a sede do Instituto Agronômico.

Espera-se promover a competitividade das empresas em alto nível estratégico, envolvendo o estímulo à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e ao surgimento de novos negócios para o agronegócio. As atividades devem também impulsionar a inovação e o empreendedorismo sustentáveis em Campinas, aproximando os ecossistemas do conhecimento compostos por instituições de ciência e tecnologia, universidades e empresas da região.

O protocolo a ser assinado não envolve a transferência de recursos financeiros ou materiais entre as partes. O documento será publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo e a partir da publicação terá início sua vigência, que se estende pelo prazo de 24 meses, podendo ser prorrogado até o limite de 60 meses.

 

Fonte: Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável